Mas tem coisas que os professores não conseguem ensinar, nem amigos, nem família: Amor não tem como se ensinar.
O professor da Gramática diria:
- Ora, mas as palavras conseguem descrever o que sentes.
Eu debateria dizendo que não há palavra que consiga cobrir tão majestoso sentimento, não há adjetivo que consiga qualificar. É como quando se vai ao médico por estar com um desconforto dentro das tripas e o dito te pergunta:
- Coça como picada de mosquito?
E respondes:
- Não.
- Pinica como etiqueta de camisa?
- Não.
- Doí como beliscão? Arranha como unha de gato? Te dá gastura como quando alguém esfrega isopor ou balão?
- Hm...não, não e não.
- Então, por obséquio - diz o moço de jaleco branco - tente me explicar.
- Coça como se estivesse pinicando, mas dá pontada como se arranhasse. Quando rio ou me levanto bruscamente, puxa como uma alavanca.
A diferença entre o amor e a dor nas tripas é que, mesmo sem ter como explicar, o médico te entende e te receita remédio, pois a dor é física. Já o amor é algo "psicofisicoespiritual" sem cura.
O professor da Matemática ousaria dizer:
- Os números. Esses sim, pois são infinitos.
Eu, menino que sempre bate-boca, empinaria o nariz e falaria.
- Caro mestre, os números são coisas muito lógicas. Apesar de não terem fim, não há frações de amor, nem décimos de amor, supondo que esteja falando do amor verdadeiro. Quando não é puro, não é amor. É gostar, é admirar, mas não amor.
O de História falaria:
- O amor é algo que veio com o tempo. Antigamente havia casamento por negócios. Amor é criação da atualidade.
O de Geografia e o de Sociologia argumentariam:
- Amor é algo que vem de população e de cada população.
- Sim, sim. É algo cultural.
Ainda que fosse assim, eu me levantaria e reclamaria.
- Meus docentes queridos, os povos podem se amar sim e até pode ser coisa da atualidade, mas não é questão de como e de onde ele veio, mas como descrevê-lo.
Lá longe eu ainda ouviria em meus pensamentos os professores de Física e de Química debatendo o que veio antes.
- Se não haver física, não há química.
O professor quis dizer em sentido de "cargas de sinais opostos se atraem". Não em relação ao sexo (já que nos tempos de hoje...), mas sim em experiências. Um mais esperto e vivido com outro que ainda tem o que viver.
- Sempre tem um que tem que fornecer algo ao outro e vice-versa, para poderem viver em equilíbrio. Como em Calorimetria - diria o professor de física com um sorriso no rosto.
- Mas, nesse negócio de emprestar, dar e dividir são os átomos - diria o químico. Sempre temos que dividir, emprestar e agir como agem os átomos para podermos caminhar juntos, almejando sermos melhores um para os outros, querendo ser "gases nobres". É assim que funciona o amor.
No meio da discussão, o mestre de Biologia diria que o tal de amor não passa de trocas de gametas, de "cruzamentos", como se fossemos animais.
- Meu queridos, também não se passe de quem vem antes ou depois, muito menos de relações ou apenas relações.
Todos os teachers se voltariam para mim. Um deles, uma voz qualquer, de qualquer professor perguntaria:
- Então, sabichão. Amor, o que é?
Eu, por ironia, ensinaria quem me ensinou.
- Amor se sente. Apenas. Talvez as matérias que poderiam almejar seriam a Literatura, as Artes e a Filosofia. Camões explicou sem explicar. O Abstrato de artes desenha o que se pode imaginar como é o amor. A filosofia dos filósofos seria a explicação para o que a mente pode sentir. Mas, quando se entende as matérias que eu citei, perde-se o que eu tento explicar.
Amor é isso e mais um pouco, ou talvez nem isso e menos. Bem, não sei explicar...